POR EDILSON MARTINS
Só conhece a profundidade de um buraco quem nele se encontra. Ensina a Lei de Murphy que, conseguindo sair, a probabilidade de cair noutro não pode ser descartada.
As últimas pesquisas eleitorais do DataFolha, realizadas em dezembro último, e na verdade as mais confiáveis, mostraram a candidatura de Marina Silva com 8% de intenção de votos junto ao eleitorado brasileiro.
Digo de fato confiáveis porque esses institutos só revelam pesquisas sinceras três, quatro dias antes das eleições. Quase sempre foi assim. O DataFolha não produz pesquisas encomendadas por partidos, o que não deixa de ser um grande ganho.
O José Serra teve, nessa pesquisa, 37% de intenção de votos, Dilma 23% e Marina Silva, 8%. O Ciro patinou em 13%, mas sua candidatura é mais difícil de ser decifrada do que o último segredo de Fátima.
Até porque o nosso intempestivo Ciro está hospedado numa legenda (PSB) que é parte do latifúndio eleitoral do presidente Lula. Pelo menos é o que parece. Ou assim é, se nos parece.
Ser ou não ser candidato lhe diz respeito, mas não é ele que decide, já que depende dos acordos firmados pelo neto do Arraes com o presidente Lula, por sinal o dono da bola, o dono do campo, e, pensando bem, até mesmo das camisas e chuteiras de quase todos os jogadores desse game da base de sustentação governista.
É preciso não esquecer
Lula surfa numa aprovação de mais de 80% do eleitorado brasileiro, o que não quer dizer que todos sejam seus eleitores. Existe agora a síndrome de Bachelet, a presidenta do Chile, com mais de 80% também de aprovação, e que não conseguiu eleger o seu sucessor. Não custa relembrar: esses números de aprovação já foram alcançados pelo presidente Sarney e, pasmem, de triste memória, até pelo ditador Médici.
Temos agora uma pesquisa recente, saída do forno, do Sensus, entre os dias 25 e 29 de janeiro último.
Serra segue à frente com 33,32%, acompanhado de perto por Dilma, com 27%, Ciro 11,9%, e Marina 6,8%. Esses números, por enquanto, são fotografias, instantâneos, flashes, indicando muito pouco de tendência, que seria outro tipo de pesquisa, mais confiável para os próximos embates.
Pesquisa de intenção de voto é mais volúvel que jura de paixão eterna, ou beijo na face, o chamado selinho, na entrada de baile de dondoca. Falei, falei e não disse nada, diria o Nelson Rodrigues.
O que gostaria de perorar é sobre a candidatura presidencial de Marina Silva. Aventado o seu nome para essa corrida, abandonando um partido no qual construiu sua história, confundindo-se com ele, mas no qual não tinha mais espaço, tornara-se uma estranha no ninho, houve um oh, quase um hurra, ou mesmo um bravo, de certas parcelas da população brasileira.
Os que pensam
País que pensa, o país que não constrói suas lideranças pelas ideologias, viu-se contagiado pelo vírus da esperança. Acreditou, e não fê-lo mal, que surgia algo novo, alguma coisa diferenciada, na paisagem deste ano eleitoral de 2010.
Enfim uma candidata com a cara do país que sonhamos. A cara do Brasil da ética, do Brasil com princípios, do respeito, quase sagrado, à coisa, ao erário.
Uma mulher não só herdeira da herança humana de Chico Mendes, do qual foi amiga próxima, companheira de infortúnios e de derrotas, mas principalmente uma liderança que o país, nos últimos anos, foi descobrindo e aprendendo a respeitar, diga-se mesmo, amar.
O diabo do Maquiável já lembrava que para o príncipe, para o líder, ainda é mais seguro ser temido do que ser amado. Por óbvio o amor é volúvel, passageiro, quase fugidio, quantas vezes. Quem hoje nos beija, amanhã pode nos virar o rosto. O poeta já lembrou que o beijo é a véspera do escarro.
Já o temor é permanente. Esquecemos com rapidez, uma graça, um favor obtido. A ofensa é mais demorada, é preguiçosa, não nos deixa rapidamente.
Enfim, uma luz
Marina surge, não para ganhar uma eleição presidencial, já que esse não é um projeto que se alimente de açodamento. Ninguém é abestado para apostar num milagre desses. Assim nos parece. Ela surge como uma saída, uma luz, vamos usar esse clichê, uma terceira via ente o lulismo e o tucanato. Lulismo porque enfim se compreendeu que não existe PT sem Lula. PT sem Lula é marolinha, queiramos ou não.
A candidatura da Marina Silva nasce lastreada numa certa elite, a elite dos cabeças feitas, dos que lêem jornal, dos que sabem o nome do Presidente da República, dos que odeiam o programa televisivo do Datena? Certamente. Mas no peito dessa elite também bate um coração.
A esperança acalentou, e ainda acalenta, os sonhos de parcela ponderável da população brasileira, principalmente dos que pensam, dos que olham o mundo sem o viés da ideologia, da religiosidade, do fanatismo, que não olham o mundo pelo viés partidário, ou dos interesses pessoais de seu grupo.
Essa gente, diria Dom Helder Câmara, é invisível, é minoria, certamente, mas existe, e vale a pena acreditar em suas utopias. O país justo se constrói também com a contribuição dessa gente, diria ele.
E, no entanto, Marina está patinando em sua performance. Não conseguiu, até hoje, apesar de sua presença nos jornalões, na mídia televisiva, nas rádios, nos blogs mais visitados, de seu currículo, e até mesmo de todas as inserções de seu novo partido ir além da marca dos 10% de intenção de votos. Corre o risco de morrer antes de alcançar a praia.
Há alguma coisa errada nessa história. O que quero dizer é que desconfio conhecer o local, o terreiro, onde o galo está cantando, o porquê de resultado e performances tão pífias. Estou falando de números.
Um partido bizarro
Não vou me deter no saco de gatos que é o Partido Verde. Todos eles são. O Partido Verde presidido pelo Pena em São Paulo, a mala do Sirkys no Rio, um Sarney no Maranhão e até um fazendeiro, fazendeiro de gado, no Amazonas. E fiquemos por aqui para o caldo não entornar.
Dizer que o povo brasileiro é insensível, alienado politicamente, dominado por preconceitos do tipo Rita Lee, manipulado pelo poder econômico, também não vale.
Essa senhora, a paparicada tia Lee, declarou, para quem quisesse ouvir; não votava na Marina porque ela tinha cara de fome. O povo brasileiro, mesmo os satanizados pela exclusão social, é bem melhor que juízos de valor dessa natureza. Coitada da titia Rita.
Sou jornalista, jamais deixarei de sê-lo, imagino, e entre outras enganações, trabalho com marketing político há quase 20 anos. Não é nada, não é nada, não é nada mesmo. Mas ajudei a eleger, dirigindo suas campanhas, políticos do porte de Artur Virgílio, Jorge Viana, Marina Silva, e outros que não quero lembrar, não vou lembrar. Ponto final.
O bicho começa a pegar
A partir do dia 4, portanto a partir de quinta-feira, começa, novamente, a exibição das peças eleitorais do PV. Pelo que foi anunciado, todas as inserções serão destinadas a alavancar as intenções de voto de Marina Silva.
Está sendo dito que Fernando Meireles, que dirigiu o fantástico "Cidade de Deus", que fez o teaser para viabilizar, e viabilizou, a escolha do Rio como sede das próximas Olimpíadas, participará da edição e formatação dessa campanha. Segundo consta ,já vem participando desde o ano passado.
E, no entanto, vamos repetir novamente, se for algo parecido com o que já foi feito, a candidatura da Marina vai para o beleléu, vai empacar. A tropa de burros, que viabilizou a economia acreana na passagem do século 19 para o século 20, diante de uma ponte estreita, ou sentindo o cheiro de uma surucucu, empacava. E não adiantava segurar o cabo, ameaçar com novas chicotadas.
Não vai sequer repetir o desempenho da agitada, para dizer o mínimo, fundamentalista Heloísa Helena. E olha que a diferença entre elas é abissal. Não é um superlativo, mas vamos supor que seja: o currículo de Marina nada fica a dever a nenhum outro de qualquer político brasileiro vivo. Nem mesmo do Lula, que tem inquestionavelmente uma bela história.
A campanha passada do PV, anunciando a entrada na corrida presidencial de Marina Silva, foi um fiasco. Um fundo verde, certamente para alertar o eleitor que o partido era verde, e já aí nada mais óbvio e redundante, portanto brega, pontuou todas as suas inserções.
TV é entretenimento
E tome perorações de Marina Silva, que cada vez mais produz um discurso rococó, pleno de proselitismo. Ela ficava em on todo o tempo, pontificando sobre questões ambientais, praia por sinal ainda não freqüentada pelas classes C e D.
O palanque eletrônico e o do rádio (o jornal não) é destinado prioritariamente às populações de baixo poder aquisitivo, ao povão, principalmente no horário eleitoral, que quase sempre, fora algumas exceções, é de uma mesmice, bobagem, falta de criatividade de fazer dó.
E lá ficava a Marina, chamando ouvido de escuta, êta linguagem fora do eixo pra esse veículo, com olheiras de fazer inveja à família Adams, voz extremamente bizarra, sem o botox e cirurgias plásticas reparadoras que dominam o sonho de consumo dos políticos atuais, perorando, apontando rumos para o país ameaçado pelas queimadas, desmatamentos, agronegócios, e assim por diante. Só falta denunciar o Avatar como infiltração insidiosa.
As classes A e B, vão para as TVs por assinaturas; o povão não desliga, mas vai trocar um dedo de prosa, aguardando um tempo melhor em seu entretenimento gratuito. TV é um espaço para entretenimento, e não peroração política.
Pode-se dizer tudo do César Maia, e ele certamente merece. Parafuso a menos, abandonou o Rio, que virou um caos, em anos de gestão desastrosa, açodado, mas não se pode negar ser ele craque em leituras de performances eleitorais. Números são com ele mesmo. Ele apontou há tempo o despropósito das peças da Marina Silva na TV.
Briga de foice
No audiovisual, o conteúdo é a imagem. Decorridos dois, três dias, uma semana, ninguém se recorda do que o político falou, mas sim de sua roupa, de seu desempenho, de sua performance. A TV é uma brincadeira entre os ouvidos e os olhos, ganhando sempre, por nocaute, os últimos.
A campanha de Marina, se não resgatar sua história, os deslocamentos cruciais vividos por sua família de seringueiros, retirantes, as grandes diásporas vividas por sua gente, sua belíssima escalada pessoal, vai chover no molhado.
Marina se alfabetiza aos 15 anos, fugindo da selva, da malária, da extração perversa da seringa, chega a senadora da República. Participara antes, juntamente com Chico Mendes e sua gente, dos belíssimos movimentos sociais patrocinados pela Igreja de João XXIII, o padre dos deserdados, põe o país na pauta da consciência ecológica internacional, enfrenta um governo onde todos dizem sim e alguns chegam a beijar-lhe a mão. Marina Silva é emoção, e voto se conquista com emoção.
Essa Marina gongórica, pontuando sobre questões atuais e internacionais, enche de orgulho os ambientalistas, os que falam em reconstruir, redesenhar, reinventar, fazer máscaras de seu rosto, para vender no Carnaval, entre outros modismos.
Ela, em sua simplicidade, terá talvez pernas curtas, numa eleição presidencial, onde o Grande Guia tem com o povo uma conjunção e empatia invejáveis. O PT hoje é um partido profissional, uma máquina de ganhar eleições, uma máquina que veio para ficar.
Marina certamente vai encantar o eleitor antenado, mas voto que é bom, dos excluídos, não terá. O voto dos grotões decide as eleições majoritárias, quase sempre, até porque o país é grande e rico, hoje, mas seu povo ainda não. Talvez saia mais arranhada do que imagina, ela que dispõe, de forma sincera, do melhor e mais honesto projeto de Brasil que tanto aspiramos. E sonhamos.
Marina sem mandato é uma pena, mas nada de grave, posto ter virado uma celebridade, com espaço nos salões do primeiro mundo. Ganhou muitas janelas. Grave é vermos desperdiçar uma das mais alvissareiras notícias que o país teve notícia, nestes últimos anos, onde a mentira e os mensalões foram banalizados, até viraram moeda de troca.
Data vênia, e pedindo desculpas pela forçação de barra, estamos postando (acima) um dos vídeos, que modestamente fizemos, destinado à campanha de reeleição de Marina ao Senado em 2002. No pacote, vai um compacto sobre o Chico (abaixo), também de nossa autoria. Tudo miçangas, coisas passadas de baú velho, mas que até hoje nos orgulha.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Esse cidadão que escreveu esse artigo, escreveu tanto e não conseguiu dizer quase nada. a unica coisa que se entende é que ele adora o verbo PERORAR. no artigo ele fala em redundancia e repete varias vezes o verbo sitado acima. Como ele mesmo diz tv aberta é para pobre, e se ele escreve tambem para as classes c e d deveria usar termos mais simples e mais fáceis de se entender.
Postar um comentário