quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CIMI diz que Igreja Universal patrocina extermínio de índios

Uma revolução não tão silenciosa, mas que vem acontecendo longe dos olhos da opinião pública, levanta mais uma polêmica entre grupos Neo-petencostais e a Igreja Católica do Brasil. O primeiro, denunciando os missionários do Conselho Indígena Missionário (CIMI), órgão ligado ao Conselho Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e, o segundo, delatando o patrocínio a um verdadeiro extermínio das tribos indígenas do Acre e da Região Norte. Como tema central de discussões está o infanticídio. Há quem argumente que é parte da cultura indígena. Outros afirmam que o direito à vida, previsto no artigo 5º da Constituição, está acima de qualquer questão. O debate expõe a fraca política de apoio aos povos indígenas desenvolvida pelo Estado brasileiro e a política do Governo do Estado em apoio à homofobia.

A guerra fria envolve crianças indígenas que segundo a ONG Atini, recém-nascidas, são enterradas vivas, estranguladas ou simplesmente deixadas na mata para morrer. Para antropólogos do CIMI existe no debate conflito entre a ética universal e a moral de uma comunidade. "Esses caras são loucos, a antropologia deixou de ser uma ciência", disse o pastor Daniel, presidente da Jocum no Acre.

O Infanticídio - termo que parece título de filme americano - é reconhecido pelo CIMI como uma prática cultural de pequenas proporções e "em franco declínio", que segundo Lindomar Padilha, coordenador regional do órgão no Acre, ocorre quando existem problemas sérios como paralisia cerebral e outras anomalias, "realidade não mais tão presente na vida das tribos ocidentais", assegura.

A prática característica de povos como os Suruwahá, da região central da Amazônia, segundo o Conselho Missionário do Acre, encontram-se fragilizado por um aumento de suicídios, decorrentes de interferências irresponsáveis em sua cultura. A carta de princípios divulgada pelo CIMI diz que o infanticídio representa uma brecha para que o grupo Jocum [Jovens com uma missão] acusar o Estado brasileiro de omissão e, fazer lobby para aprovação de uma lei que garanta definitivamente seu evangelismo agressivo nas aldeias.

"É uma estratégia utilizada pelas Igrejas Neo-petencostais para eleger deputados estaduais, federais e senadores transformando os índios em bárbaros com atitudes concretas de "evangelismo agressivo", comentou Padilha. O coordenador citou como exemplo no Acre, os Katuquinas "que estavam vendendo madeira e animais silvestres para pagar dízimos à Igreja neo-petencostal", denunciou.

Por outro lado, a Atini [organização não governamental] insiste na discussão e afirma que "as denúncias são muitas, e a Funai e o CIMI ignoram suas vozes e são contra um projeto de lei que visa acabar com a prática". O projeto é de autoria do deputado federal Henrique Afonso (PV-AC), que recentemente foi punido pelo Partido dos Trabalhadores por defender os direitos da vida, migrando para o Partido Verde, da senadora Marina Silva com a garantia de mudanças de paradigmas no estatuto da sigla verde. A lei [Muwaji] foi criada para combater o infanticídio e proteger os direitos fundamentais das crianças.

"Entre os missionários do CIMI, uma nova religião está sendo promovida,defendendo o paganismo, a superstição, a barbárie e o infanticídio como se fossem expressões culturais autênticas e dignas de um missionário cristão", diz a ONG.
Livro reascende polêmica
O lançamento do livro: Infanticídio Indígena - a Tragédia silenciada, da lavra de Raymonde de Souza, reascende as discussões em torno das metodologias utilizadas pelas Igrejas. Se por um lado, o CIMI argumenta que a conscientização requer uma pedagogia a médio e longo prazo, por outro, o órgão ligado a Igreja Católica acusa os neo-petencostais de "extermínio da cultura indígena".

O livro termina com um apelo ao papa Bento XVI pedindo sua intervenção junto aos bispos do Brasil a fim de que ajam em conjunto para acabar de uma vez por todas com esse crime que brada aos céus: "o assassinato de crianças recém-nascidas, sob o olhar cúmplice do Conselho Indigenista Missionário da Igreja Católica no Brasil". O bispo Dom Joaquim Pertiñez ficou de enviar através de e-mail, sua opinião sobre o que os neo-petencostais chamam de nova filosofia neo-pagã.
Padilha, o coordenador regional do CIMI, disse que a nova manifestação da ONG provoca a citação e a incitação da sociedade contra o trabalho do conselho e das tribos indígenas. Ele teme que com a campanha deflagrada pela neo-colonização, "o índio fique cada vez mais marginalizado pela sociedade".

"Vamos entrar com mais uma representação junto à 6ª Câmara Federal em Brasília, onde essa organização já responde dois processos por falsificação de documentos", acrescentou.

De forma dura, Padilha conclui a entrevista afirmando que existe um plano de destruição da floresta amazônica, patrocinado por grandes empresários infiltrados nos grupos petencostais com interesses na madeira, no petróleo e nas riquezas naturais das tribos indígenas do Acre e da Região Norte.

"É semelhante ao que acontece com o MST, financiados por multinacionais esses grupos com a desculpa de salvar almas de crianças que consideram perdidas, arriscam por suas intervenções perder centenas de vidas de um povo e reforçam o preconceito contra o índio selvagem. Com certeza, a Igreja Universal e todas as siglas proliferadas ao longo dos tempos estão por trás desse extermínio", concluiu.

Jocum diz que "a Igreja Católica tem poder político atrelado ao Governo"

Para o presidente da Jocum no Acre, o pastor Daniel Batistelo, a Igreja Católica atrelada ao Governo do Estado é quem incentiva o infanticídio. O pastor assegurou que a Igreja Evangélica jamais mudará seu posicionamento para agradar a grupos políticos.

"O PT incentiva o infanticídio e a homofobia no Acre, atrelados a Igreja Católica são favoráveis a mortalidade infantil e ainda perseguem quem se posiciona contrário a esse pensamento", acrescentou Batistelo.

Com a experiência de 15 anos de evangelização nas tribos Banawá, no Amazonas, o pastor diz que a Jocum faz um trabalho em favor da vida e da família. Ele critica o trabalho dos antropólogos, "uma ciência que deixou de existir".

"Quando chegamos nos Banawás, a mortalidade infantil era de 50%, a cada duas crianças duas morriam. Hoje é zero. Não tiramos os índios de suas terras, pelo contrário, evangelizamos os índios na língua deles e depois em português e pacificamos as brigas provocadas pelo CIMI com ribeirinhos", relatou o pastor.

O pastor fez um verdadeiro desabafo. Disse que a Jocum vem fazendo o papel de governo não apenas no combate a mortalidade infantil, "mas com relação às drogas cuidando de mulheres viciadas, no combate a homofobia resgatando os gays das esquinas e convertendo-os para Jesus. O Governo do Estado tem dinheiro mas não sabe como fazer", denuncia ele.

Crise extirpa a vulnerabilidade do índio acreano

Enquanto petencostais e neo-petencostais discutem metodologias, a crise extirpa uma situação vulnerável que a pouco a sociedade não conhecia. É o que o CIMI chama de infanticídio estrutural que mata mais do que o próprio Infanticídio cultural, expondo uma situação de miséria pelo abandono as políticas dos povos indígenas.

Os índios acreanos e brasileiros morrem mais por diarréia e desnutrição do que qualquer discussão religiosa. Em recente relatório o conselho protesta afirmando que "enquanto essa discussão acontece, vemos a grave situação de saúde a que estão submetidos muitos povos indígenas, com quadros de endemias de hepatite, malária, tuberculose e outras doenças que se alastram de maneira assustadora"

Para o CIMI, Isso mostra claramente a inadequação do modelo de assistência terceirizado e centrado na Funasa. O órgão acusa o Estado de excluir os povos indígenas, destinatários de tais políticas das definições mais importantes, que urgentemente precisam ser assumidas.

Em 2004, o governo brasileiro promulgou, por meio de decreto presidencial, a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que determina que os povos indígenas e tribais "deverão ter o direito de conservar seus costumes e instituições próprias, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais definidos pelo sistema jurídico nacional nem com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos".

ac24horas foi muito bem atendido pelo administrador da Funai, Djalma Porto, este porém, preferiu não gravar entrevista, por acreditar ser um tema extremamente difícil de ser discutido. "Não quero cometer nenhuma injustiça", disse ele. Porto não descartou a existência do infanticídio nas tribos isoladas.

O caso já foi denunciado ao Ministério Público Federal de Brasília.

A Lei Muwaji - A Lei Muwaji, como é chamada em homenagem à índia que enfrentou a tribo para salvar sua filha com paralisia cerebral - caso que inspirou a criação da Atini - estabelece que "qualquer pessoa" que saiba de casos de uma criança em situação de risco e não informe às autoridades responderá por crime de omissão de socorro. A pena vai de um a seis meses de detenção ou multa.

Jairo Carioca - Da redação de ac24horas
js.carioca@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
Rio Branco, Acre

3 comentários:

Oswaldo Eustáquio disse...

Acho que esse Padilha do CIMI assiste muito filme de conspiração. Enquanto aceitarmos esse discurso desconexo do CIMI, as crianças indígenas vão continuar morrendo. Lamentável. Mas, quem conhece um pouquinho de história vai entender que isso que o CIMI faz hoje é um reflexo da colonização, da caça as bruxas e outras barbaridades feitas em nome de Deus.

Anônimo disse...

Who is Raymond de Souza?

Raymond is the Founder and Director of Saint Gabriel Communications, Australia’s first international outreach promoting Catholic Apologetics. He is also the Chairman of the New Evangelization Office of the National Shrine of the Sacred Heart of Jesus in the United States and EWTN program host. Gostaria que o companheiro Padilha desse uma olhadinha pra poder saber que quem escreveu o citado livro não foi a Atini nem a Igreja Universal.
Como pode ver o sr. Raymond representa uma organização catolica.

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caro Luizio,

Não costumo responder a certas provocações feitas sem nenhuma pertinência. Mas, no caso do Oswaldo, embora já com algum tempo de atraso, pois, estava em viajem, preciso dizer algo sobre o descabido comentário.

O dito senhor mora no Paraná e se vangloria, ou tenta vender seus pesadelos, procurando se passar por uma pessoa "esperta" e competente. Preocupa-se mais com os frutos pessoais que com os seus semelhantes (veja forma como se apresenta). Desconhece totalmente a realidade vivida nestas maravilhosas matas e sua gente honesta e trabalhadora, incluindo aí sobre tudo os povos indígenas.

Diga- se a este senhor que infanticídio é o que o governo pratica quando deixa morrer as nossas crianças, abandonadas e desassistidas. Preocupe-se antes com as crianças abandonadas no Paraná. Preocupe-se antes com a expulsão do povo Guarani de seus territórios... depois, muito depois de solucionar os problemas dos não-índios mortos prematuramente, talvez tenhamos condição de acusar os povos indígenas de serem bárbaros e assassinos de criançinhas.

A idéia de que os povos indígenas cometem "infanticídio" é apenas para aprofundar o preconceito contra esses povos. Nós é que somos os infanticidas, os bárbaros, os covardes e, antes de tudo "desumanos".

Por fim, nos diga senhor Oswaldo, quantos são os casos de infanticídio indígena aí no seu Estado? quantos são nos Estado do Acre? diga-nos quais os povos indígenas no Brasil que ainda praticam infanticìdio e quantas crianças indígenas morrem por ano por causa dessa prática?

Agora, pergunte à FUNASA quntas crianças indígenas morrem no seu Estado, no Estado do Acre e no Brasil por falta de assistência.

Bom trabalho

Lindomar Padilha